segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Desabafos de um não sedutor...


Antes de começar, quero esclarecer o título da crônica. Se o leitor mexer um pouco em meus escritos, verá que há algum tempo, escrevi um texto intitulado “Confissões de um sedutor”. Embora pareça absurdo, não foi pretensioso, da mesma forma que este não é despretensioso. Disse que a sedução não é mera arte, é um atributo. Não peço desculpas pelas palavras que causaram algum desconforto – e acho que isso ocorreu com frequência, tendo em vista a pouca receptividade que teve, ainda que tenha tido um número razoável de leituras nos meios em que foi postado. Talvez ocorra o mesmo com a crônica que você está lendo. Aliás, como geralmente recomendo, não acho que vai valer a pena você prosseguir em sua leitura. Se insistir, pelo menos, peço que não seja deselegante ao escrever xingamentos. É bom que se tenha bom gosto até para escolher as palavras com as quais iremos... Você sabe... Xingar alguém. Eu até tenho a opinião de que a ortografia da palavra xingar é muito feia... Deve ser algum preconceito com as palavras que começam com “xis”. Lembre-se dos conselhos do Che: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás!”.

Voltemos ao problema do título. Caro leitor, você acha que me equivoquei no título do texto anterior, aquele que me referi acima? Não seria melhor se fosse “Conselhos de um sedutor”? Mas, isso não tem importância, pois parece que virou práxis literária. Se escrevo um livro querendo contar vantagens, dou o nome: “Confissões de...”. Porém, se minha autoestima está baixa ou quando tenho algo que vai me comprometer socialmente, dou o nome de “Desabafos de um...”. Por sua vez, não parece estranho que alguém escreva um texto exaltando qualidades de um sedutor e, pouco tempo depois, outro falando da sua incapacidade de seduzir? Cadê o princípio da não-contradição?

Seduzir... A arte de despertar os sentidos alheios, dar aos sentidos vontade própria, fazer com que os sentidos do seduzido tenham uma vida independente, sejam autonomamente seres pensantes, sem que existam sem o desejo.

Agora, não quero possuir mãos, pernas, seios, bocas... Quero abraçar mentes, debruçar-me em corações, enlaçar sonhos...

Não desabafo porque minha autoestima está baixa, mas porque querem que eu só seduza, enquanto eu gostaria apenas de uma boa conversa, um bom chocolate quente, um olhar entre amigos, um passeio pelo parque... Desabafo porque a sociedade contemporânea, do culto ao corpo, sentidos e instintos, exige que eu apenas seduza para estar entre pessoas, ou melhor, entre prováveis objetos sexuais. Enquanto o tempo passa, a idade adianta, os cabelos embranquecem, passo a ver o quanto é bom estar somente entre amigos, amar apenas a quem respeitosamente me seduziu, não ser excluído só porque não quero seduzir ou ser seduzido, estar com alguém só para contemplar as montanhas douradas ao entardecer, sem que ambos nos notemos, embora a outra presença enriqueça o instante.

Desabafo... Hoje é o dia de todos nós, sedutores ou não, seduzidos ou não... É a manhã para a vida plena de vontade de ser... É isso, tolerância ao simples ser, ao ser simplesmente, ao ser exultante/mente...

Desabafo... Pela tristeza que engrandece, pela alegria que não se contém.

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Acesse: http://recantodasletras.uol.com.br/cronicas/2103597

Um comentário:

  1. Então, li os dois, e não sei porque alguma mulher, iria te "xingar", o texto não ofende, e particularmente, neste só se quer olhar a paisagem, não há sedução, há emoção!

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