quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Confissões de um sedutor...


A sedução não é apenas uma arte, também é uma característica. Seduzir é despertar a atenção dos sentidos alheios para aquilo que se dá como um objeto de desejo... É tornar-se tal objeto. Para além disso, é ser capaz de enlouquecer o mais lúcido ser humano, assumindo a forma de todos os eventos possíveis do mundo, transformando-se no único que vale ser amado.

Engana-se quem julga mal um sedutor. Não imagino grande amor que não tenha surgido de uma sedução – tampouco uma profunda desilusão. Aliás, bem lá no fundo há sempre uma vontade que tende para o outro, para a entrega erótica, um apelo pela própria conquista. São incontáveis aqueles que passam uma vida inteira na busca por ser seduzido.

Lembro-me de Sören Kierkegaard, filósofo dinamarquês do século XIX, que tentou expressar com maior propriedade o que seria um sedutor. No entanto, ele sempre falou da própria experiência: um homem que foi ao mesmo tempo sedutor e seduzido. Sua paixão quase acética pela senhorita Regine Olsen fez nascer nele alguém que viveu em função de se fazer percebido por uma mulher que talvez o negligenciasse apenas porque jamais conseguiu lhe esquecer. São suas as seguintes palavras:

“O que sou? O simples narrador que segue os teus triunfos; o bailarino que se curva sob os teus passos quando te ergues na leveza da tua graça; o ramo sobre o qual te repousas um instante quando estás casada de voar; a voz de baixo que se submete ao devaneio do soprano, para deixá-lo subir ainda mais alto – o que sou? Sou o peso terrestre que te prende à terra. Então, que sou? Corpo, massa, terra, pó e cinzas...” (Diário de um sedutor).

Seria essa sua verdadeira posição, um submisso ao amor? O quanto de ironia há nisso? O certo é que o sedutor sabe qual é seu preço: nem muito nem pouco, somente o suficiente. Ele nunca se dá gratuitamente. Sabe que se for extremamente barato, satisfará apenas desejos, mas se custar algo realizará sonhos.

Nenhuma beleza é demasiada para um sedutor, pois ele a todas submete. Ele as encanta, transmutando-se impressionantemente num similar, ainda que para isso utilize toda sua feiúra. Sua idade, sua roupa, suas posses, seu corpo, sua voz, seu cheiro... Nada é empecilho. Tudo é utilizado como arma de sedução.

Para tudo isso não há fórmulas, cursos, feitiços... Faz parte do seu ser. É atributo, não algo que se lhe tenha sido anexado durante a vida. Seu poder é tamanho que cada palavra não é um afago, é um signo de posse. E nem adianta trocar nomes, usar superlativos, roupas de grife, automóveis caríssimos para se passar por um sedutor. Se alguém acreditar nessas coisas para seduzir, ficará admirado quando um “pé-rapado” tomar seu lugar nos sentidos da pessoa desejada.

Esso vuole, esso seduce, esso ride della vita

Continua... Não sei quando.

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Um comentário:

  1. Mas afinal o que é um sedutor... vc é um sedutor? E de que sedução estamos falando, um poeta, seduz pela palavra, um dançarino pelo corpo, mas não se discute, sedução é algo que se tem, ou não, já se nasce com ela, o fato é que as vezes quando se seduz (os homens bem o sabem)estão a falar de coisas corporais, nem tocam no sentimento, o que aliás está orreto! Mas as mulheres (ah, as mulheres!) insistem em juntar os dois, corpos e sentimentos, um é um o outro é o outro!

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