Não sou poeta. Poetas são aqueles que sabem usar as regras da métrica, da rima... que cantam com sons sem que haja música. Nisso sou péssimo. Quem quiser aprender algo sobre a estrutura de um soneto, por exemplo, não leia meus textos. Aliás, neles nada se aprende. Os verdadeiros poetas brincam de cupidos léxicos, têm prazer no apaixonamento das palavras. Em seu jogo, estabelece-se toda tensão de uma paixão: o flerte, o receio, o convite, o beijo, o enamoramento, o amor, o ódio, a eternidade... Eternamente a palavra poética, e só é poética a palavra que já foi conjugada, estará unida ao seu par... É por isso que se diz que há o amor segundo Platão, segundo o Apóstolo Paulo, Agostinho de Hipona, Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes... Cada um possui o próprio universo poético. As palavras poéticas não sabem pedir licença e ainda assim todos os sons se silenciam diante delas. Elas dançam no tempo e no espaço, dos pensamentos do poeta aos ouvidos alheios antes mesmo de terem sido ouvidas. Não são desta forma os mensageiros da morte, aqueles que destroem a eternidade, capazes de fazerem ruir as mais belas paixões poéticas. A tais algozes foi dado outro nome: críticos. Eu suas bocas a palavra viva é mastigada, destroçada, sacrificada... São os mesmos que matam, realizam a autópsia e simulam os lamentos fúnebres com seus comparsas... que não são poucos. Mas não é por isso que não sou poeta... Assim diz o palavreiro.
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