Aquele sujeito era um canalha. O tempo que insistiu no casamento era só por causa dos dotes culinários da esposa. Esta sabia muito bem que não competia com a amante do marido em relação à maioria dos outros quesitos. Porém, sua vocação para dona de casa e submissa a impedia de pedir o divórcio. Para piorar sua situação, aquele indivíduo tinha se casado sob o regime de separação universal de bens. A casa foi comprada por ele na época de solteiro, e a mulher não teria direito algum sobre ela.
Como era de se esperar, chegou o dia em que o marido chegou da rua com a notícia: “Quero me divorciar e você tem uma semana para sair da casa.” Engana-se quem pensa que ela se desesperou. Amor mesmo já não existia na relação, era tudo uma inconveniente conveniência. Esperta, utilizou o talento culinário para arquitetar a vingança. Certa manhã, pediu o quase ex-marido para buscar um quilo de peixe não limpo na peixaria, pois queria preparar uma moqueca para o almoço. Peixe em mão, esperou que o homem saísse para encontrar a outra e começou a colocar em prática o plano. Retirou as entranhas do bicho, por sua sorte, cheio de ovas, e cortou a carne em minúsculos cubinhos. Os pedaços a contento, começou a espalhá-los entre os trilhos das cortinas e os alisares das janelas de madeira.
No dia marcado, ela saiu da casa, deixando-a aparentemente limpinha para o agora ex-marido e sua nova dona. Algum tempo depois, o sujeito começou a sentir um cheiro terrível. Pensou que era o esgoto. Chamou os encanadores, que limparam todos os canos, caixa de gordura e de passagem, mas não resolveu o problema do odor. Em seguida, mandou que a nova esposa limpasse sofás, camas, guarda-roupa, geladeira, conferir se algum animal fazia suas necessidades ao redor da moradia. No entanto, nada se encontrou.
Não mais suportando o cheiro, resolveu colocar a casa à venda numa imobiliária. Não era uma mansão, mas era uma construção vistosa, e logo encontrou comprador; ainda mais pelo preço que pediu: só setenta por cento do valor de mercado. O melhor é que deixou todos os móveis e cortinas no imóvel; queria é se ver livre do constrangimento.
Os novos moradores entraram na casa. Era um casal. Não demorou muito para perceberem o fedor de peixe estragado. Para não gastar muito o tempo de leitor, vou resumir: tomaram as mesmas providências do antigo morador. Nada foi resolvido. Ninguém sabia dizer de onde vinha o cheiro. Quanto mais tempo se passava, mais séria a coisa ficava. O casal não recebia mais visitas e quando decidiu vender o imóvel, os possíveis compradores só aceitavam um preço bem abaixo do que realmente valia: trinta por cento de seu valor.
Foi quando a primeira moradora apareceu. “Quanto vocês querem por este imóvel fedorento?” Perguntou. “Pagando mixaria a senhora leva”, responderam os proprietários. Dinheiro na mão dos vendedores, a mulher ficou com a casa e todos os móveis. Na mesma tarde, pegou uma espátula, bons produtos de limpeza e não deixou nem a lembrança do peixe podre nos trilhos das cortinas e nos alisares das janelas. No final da faxina, pensou com seus botões: “Quem é que disse que eu não era a dona dessa casa”.
Detalhes da história: pagou as insignificantes prestações da casa com a pensão do ex-marido, o qual agora vivia num apartamento com três apertadíssimos cômodos e o melhor; era seu vizinho da frente...
Como era de se esperar, chegou o dia em que o marido chegou da rua com a notícia: “Quero me divorciar e você tem uma semana para sair da casa.” Engana-se quem pensa que ela se desesperou. Amor mesmo já não existia na relação, era tudo uma inconveniente conveniência. Esperta, utilizou o talento culinário para arquitetar a vingança. Certa manhã, pediu o quase ex-marido para buscar um quilo de peixe não limpo na peixaria, pois queria preparar uma moqueca para o almoço. Peixe em mão, esperou que o homem saísse para encontrar a outra e começou a colocar em prática o plano. Retirou as entranhas do bicho, por sua sorte, cheio de ovas, e cortou a carne em minúsculos cubinhos. Os pedaços a contento, começou a espalhá-los entre os trilhos das cortinas e os alisares das janelas de madeira.
No dia marcado, ela saiu da casa, deixando-a aparentemente limpinha para o agora ex-marido e sua nova dona. Algum tempo depois, o sujeito começou a sentir um cheiro terrível. Pensou que era o esgoto. Chamou os encanadores, que limparam todos os canos, caixa de gordura e de passagem, mas não resolveu o problema do odor. Em seguida, mandou que a nova esposa limpasse sofás, camas, guarda-roupa, geladeira, conferir se algum animal fazia suas necessidades ao redor da moradia. No entanto, nada se encontrou.
Não mais suportando o cheiro, resolveu colocar a casa à venda numa imobiliária. Não era uma mansão, mas era uma construção vistosa, e logo encontrou comprador; ainda mais pelo preço que pediu: só setenta por cento do valor de mercado. O melhor é que deixou todos os móveis e cortinas no imóvel; queria é se ver livre do constrangimento.
Os novos moradores entraram na casa. Era um casal. Não demorou muito para perceberem o fedor de peixe estragado. Para não gastar muito o tempo de leitor, vou resumir: tomaram as mesmas providências do antigo morador. Nada foi resolvido. Ninguém sabia dizer de onde vinha o cheiro. Quanto mais tempo se passava, mais séria a coisa ficava. O casal não recebia mais visitas e quando decidiu vender o imóvel, os possíveis compradores só aceitavam um preço bem abaixo do que realmente valia: trinta por cento de seu valor.
Foi quando a primeira moradora apareceu. “Quanto vocês querem por este imóvel fedorento?” Perguntou. “Pagando mixaria a senhora leva”, responderam os proprietários. Dinheiro na mão dos vendedores, a mulher ficou com a casa e todos os móveis. Na mesma tarde, pegou uma espátula, bons produtos de limpeza e não deixou nem a lembrança do peixe podre nos trilhos das cortinas e nos alisares das janelas. No final da faxina, pensou com seus botões: “Quem é que disse que eu não era a dona dessa casa”.
Detalhes da história: pagou as insignificantes prestações da casa com a pensão do ex-marido, o qual agora vivia num apartamento com três apertadíssimos cômodos e o melhor; era seu vizinho da frente...
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Olá Ricardo!
ResponderExcluirA mulher sempre esteve associada a muitos arquétipos. Enquanto lia este texto extremamente irônico e bem elaborado, pensei na força simbólica da dissimulação (um aspecto ligado ao feminino) e a vingança arquitetada pela protagonista, que deu a volta por cima! Parabéns pelo blog! Sucesso! Bjs
Dolce Vita