Algo para a massa, ou melhor, a cultura de massa, exige tempo para ser preparado e, ademais, muito dinheiro (foi isso que fizemos no século XX na arte em série, substituímos genialidade por dinheiro). Lotar cinemas, estádios, alcançar vários espectadores pela televisão, vender livrinhos melodramaticamente açucarados, ganhar discos de ouro nunca foi algo muito barato.
Porém, tudo precisava ficar menos dispendioso sem deixar de ser vendável. Foi quando alguém teve a ideia de dizer que as pessoas estavam demasiadamente atarefadas e com pouquíssima disposição para algo que demandasse vinte ou trinta minutos. As coisas passaram a ficar mais velozes, inclusive nossos supercomputadores aos quais esmurramos se demorarem mais do que dois ou três segundos para abrir um programinha qualquer. Está certo que tenhamos urgências, mas devemos viver na urgência? A comodidade é boa, mas não seria bom um pouco de exercício cerebral?
O tempo das cartas foi substituído pelo dos e-mails, os quais foram perdendo a vez para os scraps, a leitura de um livro perdeu lugar para as revistinhas (que são até de saborosa apreciação), os jornais impressos ficaram à sombra das notícias instantâneas da internet, que acabaram eclipsadas pela admirável prática da “twitagem”. A informação não é mais processada, verificada, peneirada, ruminada, assimilada. Ela vem aos montes e tão rapidamente que os olhos são obrigados a se tornarem verdadeiros corredores de cem metros rasos. Talvez nossos órgãos dos sentidos estejam sofrendo por causa preguiça mental que nos é cada vez mais comum.
Penso que a arte é a que mais sofre com tudo isso, a começar por sua descartabilidade. Não é para menos: o que tem pouca qualidade, escasso conteúdo, raríssimo comprometimento e nenhuma devoção deixa muitas arestas, buracos, rachaduras e fácil dissolução. É como se o cérebro não mais suportasse música longas, um texto com mais de meia página, uma escultura que fosse algo mais do que bonequinhos de decoração de festas infantis, filmes densos (mas não chatos)...
Hoje, aprendi a escrever a metade de uma palavra numa caixinha de busca, apertar um botão chamado “enter” e esperar alguns breves instantes para receber tudo fresquinho em casa. Mas, acho que nem sempre o mais fresco é bom para a digestão. É preciso avaliar o valor nutritivo, ter certeza de que a mente está sendo bem alimentada, que os sentidos estão degustando prazerosamente. Seria até melhor se soubéssemos quem faz nossa comida intelectual de cada dia, o que nem sempre é possível.
Comer fast-food de vez em quando não faz muito mal, mas todo dia... Será que não nos enjoamos? E a boa e velha comida da vovó? Pois é, acabei me esquecendo... Ela demora muito para ficar pronta, não é? Por caridade, alguém nos livre de termos estômagos e intestinos fracos! Não queremos só cultura, queremos a boa cultura...